Para quem tem alguns dias a mais em Berlim, não deixe de ir na Knoblauchhaus. E se você for, não deixe de ler esse post antes. Sério, vai fazer toda a diferença.
A Knoblauchhaus é uma casa que mostra uma moradia típica da alta burguesia alemã no período chamado Biedermeier com toda a mobília, história da família e curiosidades históricas.
Entendendo o período Biedermeier
O nome Biedermeier vem de um pseudônimo do jurista Ludwig Eichrodt e do médico Adolf Kußmaul num jornal de Munique. Eles parodiavam poesias de um professor que exaltavam a vida no campo e a moral burguesa.
A família Knoblauch (Knoblauch significa alho em alemão) era uma família burguesa que conquistou fortuna com fábricas de agulhas e alfinetes para os uniformes prussianos e com negócios com seda. Depois eles também montaram uma cervejaria.
Mas, para você entender um pouco mais da exposição e aproveitar melhor a visita, vale a pena ir pra lá sabendo o que esperar. Por isso eu conto um pouco do interessante contexto histórico que configura esse estilo de vida.
Contexto Histórico
O período pertencente ao Biedermeier compreende a derrota de Napoleão, em 1815, até a revolução de 1848.
Depois que Napoleão foi derrotado em Waterloo, a chamada “Santa Aliança”, que era constituída do czar Alexandre I da Rússia, Franz I da Áustria e Friedrich Wilhelm III da Prússia, adotou uma política bem conservadora a fim de evitar qualquer movimento revolucionário, como foi a desestabilizadora Revolução Francesa.
Uma política de censura foi posta em prática, levando com que músicas e escritos fossem proibidos.
Nessa época, muitos artistas, como Heinrich Heine, e intelectuais, como Karl Marx, saíram do país.
Por conta desse contexto, a vida burguesa e toda sua arte se voltou para dois pontos: a vida idealizada no campo e o espaço privado das casas.
O Estilo Biedermeier
Diferentemente da nobreza, que tinha em suas residências uma vida de luxo e opulência, a burguesia trazia consigo valores e uma moral diferentes.
As virtudes mais valorizadas eram a modéstia e o esforço próprio.
É verdade que, para os padrões de hoje em dia, que de modo geral tem um estilo mais “clean”, as casas eram bem decoradas. Porém, boa parte dessa alta burguesia era mais rica do que muitos nobres, mas tinham residências indiscutivelmente mais modestas.
Então a comparação que teríamos que fazer para entender esse estilo seria das casas Biedermeier e dos palácios da nobreza.
Em Berlim, seria comparar a decoração do palácio Charlottenburg ou Neues Palais, em Potsdam, com a Knoblauchhaus.
Dá uma olhada aqui no interior da Knoblauchhaus:
A atmosfera Biedermeier na Knoblauchhaus
A atmosfera de uma casa Biedermeier, como dá pra sentir na Knoblauchhaus, era de um local de encontros com bons amigos, mas na esfera privada.
Ao visitar a exposição, para os que tem um pouco de imaginação, dá pra reconstruir cenas que se passaram por lá.
A família reunida lendo poesias e conversando, as leituras na pequena biblioteca, os amigos debatendo política e cartas sendo lidas e escritas nas escrivaninhas, são exemplos dessas cenas.
Numa parte da casa dá para ver alguns brinquedos, o que deixa claro que as crianças participavam da convivência nos cômodos principais.
Vale a pena também chamar a atenção para os quadros: são geralmente bem realistas, retratos, quase como fotos, bem sóbrios, assim como todo o estilo.
Também encontramos na exposição quadros de locais reais, como a nova Sinagoga de Berlim, projetada pelo arquiteto da família Eduard Knoblauch.
Numa casa Biedermeier, você dificilmente encontrará imagens de motivo religioso, histórico ou heróico.
Curiosidades
– 1 –
Como grande fã do famoso arquiteto prussiano Friedrich Schinkel, eu não poderia deixar de mencionar que, além de ele ter visitado a casa dos Knoblauch, ele também projetou algumas peças da decoração, como esses lustres aqui:
Aqui eu escrevi sobre uma igreja de Schinkel pouco conhecida que fica no nosso bairro.
– 2 –
Como já mencionado, o arquiteto que projetou a nova sinagoga de Berlim era da família Knoblauch, e se chamava Eduard Knoblauch. Eu falo um pouco da sinagoga aqui nesse post sobre o bairro judeu.
– 3 –
A cama exposta na Knoblauchhaus foi a cama em que morreu Alexander von Humboldt, tido como um dos fundadores da universidade de Humboldt, onde estudamos. Tenho aqui um post desvendando a Universidade Humboldt por trás de sua fachada.
Alexander von Humboldt viajou pela América Latina e pela Amazônia. Chegou, inclusive, a recolher vários espécimes de plantas e animais brasileiros. Ele chegou a ser um dos homens mais famosos da Europa depois de suas expedições.
– 4 –
Quando a esposa de Carl Knoblauch morreu, ele se voltou mais intensamente para a política. Ele entrou para a Assembleia Nacional da Prússia e se tornou amigo próximo de Franz Lieber, que mais tarde teve que fugir para os EUA e se tornou nada menos do que consultor do famoso presidente Abraham Lincoln. Já pensou?
Visitando a Knoblauchhaus no Nikolaiviertel
Pros que ainda não se convenceram de fazer uma visita na Knoblauchhaus e querem fazer uma visita virtual antes, eles disponibilizam no site, com vários detalhes, parte da exposição: www.stadtmuseum.de/knoblauchhaus
A visita na Knoblauchhaus é gratuita, mas eles pedem uma doação para ajudar na manutenção do local.
Lá tem umas caixinhas pra você pôr o dinheiro. Aconselhamos você a doar no andar de cima (caso você pretenda doar algo), porque na caixa de baixo a doação não vai direto para a casa (vai para a associação que gerencia outros museus da cidade).
A Knoblauhaus fica no Nikolaiviertel ao lado da igreja mais antiga de Berlim, a Nikolaikirche. O endereço é Poststrasse 23, 10178 Berlin. Abre todos os dias das 10h às 18h, com exceção das segundas-feiras.
Por perto da Knoblauchhaus
Marienkirche
Torre de TV
Ilha dos Museus
Palácio da cidade
Passeio de barco em Berlim
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