Esse pra mim é um dos memoriais mais emocionantes da cidade de Berlim. Já levei muitas pessoas a ele e todas sempre saíram tocadas. É um daqueles pontos que, se você não souber do que se trata, você vai perder muito.
O Prédio da Guarda Real
Pois bem. Esse é o antigo prédio da Guarda Real projetado por Schinkel em 1818 em estilo neoclássico. Esse foi talvez seu primeiro projeto de grande visibilidade em Berlim.
Veja aqui outro post sobre uma igreja de Schinkel mais afastada do centro
O prédio fica, claro, próximo do antigo castelo da Prússia, onde os reis, ou imperadores, dependendo da época, ficavam. Inicialmente construído em celebração das guerras napoleônicas, ao ficar pronto, a guarda real foi transferida pra lá e o prédio manteve essa função até 1918, quando acabou a monarquia na Alemanha.
O Memorial
Logo após 1918, a Neue Wache foi transformada em memorial da Primeira Guerra. Depois do “Machtergreifung”, a tomada do poder pelos nazistas em 1933, o local vira um ponto de memória àqueles que caíram em guerras.
Em 1945, o prédio é danificado por conta dos bombardeios aliados, mas logo reparado. Como todo esse centro de Berlim, onde a Neue Wache se encontra, ficou do lado Soviético na divisão da cidade, a Alemanha Oriental (socialista) não demorou a fazer seu próprio memorial.
Dessa vez, era um memorial para as vítimas do fascismo e nazismo, ou seja, para as vítimas das ditaduras de direita. No final da década de 60 foram enterrados ali os restos de um soldado desconhecido e de um prisioneiro de um campo de concentração.
Clique aqui para saber mais sobre o campo de concentração de Sachsenhausen nos arredores de Berlim
Até a reunificação da Alemanha em 1990, na frente do prédio acontecia a troca da guarda na Alemanha Oriental como mostra esse vídeo (já selecionei pra vocês a partir do momento que interessa):
Após a queda do muro de Berlim e a reunificação alemã, a Neue Wache virou o memorial central da Alemanha para as vítimas da guerra e da tirania, agora independentemente se de esquerda ou de direita.
A Composição da Obra
Já antes de entrar no prédio nós notamos que não há janelas, a única entrada que há é a frontal. Nos lembramos de que era uma casa da guarda, onde seria um local para nos sentirmos seguros. Porém, quando entramos no prédio, nos deparamos com um ambiente desconfortavelmente vazio.
Vemos apenas uma estátua no centro, com os dizeres “Den Opfern von Krieg und Gewaltherrschaft” (Às vítimas da guerra e da tirania) e uma abertura acima.
A estátua é de uma mãe com um filho morto no colo, de autoria de Käthe Kollwitz.
Chama atenção a contradição entre você estar numa casa da guarda real, protegida por paredes grossas e apenas com a entrada frontal, mas se sentir completamente vulnerável, assim como se sente a mãe com o filho morto no colo no centro do memorial.
A abertura em cima da estátua também lembra isso, dependendo do clima, ela também é afetada. Se chover ela se molha, se nevar ela se cobre de gelo.
Costumo dizer que os alemães, principalmente em Berlim, têm um desafio enorme ao fazer memoriais relacionados aos períodos mais obscuros de sua história. Eles ficam se equilibrando numa fina linha, pois, se penderem para um lado e fizerem um memorial grandioso, são acusados de glorificar os erros cometidos. Por outro lado, se não fizerem nada, são acusados de esconder o passado. Por isso, ao menos em Berlim, os memoriais para esses períodos são geralmente profundos, sutis, e criativos.
Aqui você pode ver outros posts nossos sobre memoriais aqui em Berlim.
Pra terminar, e levantar um pouco os ânimos do leitor, assistindo ao filme Caçadores de Obras-Primas (The Monuments Men, no original em inglês), notei que o prédio da Neue Wache aparece algumas vezes. O filme teve cenas gravadas lá, apesar de a localização no filme ser em Paris. Alguém notou? Se liga no tempo 1:25:
Dá uma olhada também na nossa lista de filmes em/de/sobre Berlim
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