Não é incomum eu receber pessoas aqui em Berlim e, quando o assunto chega em nazismo e segunda guerra, logo surge o questionamento sobre a existência de protestos e resistência ao regime.
De modo geral, o único movimento de resistência mais conhecido é a operação Valquíria, que ficou bem famosa depois do filme com Tom Cruise (mais sobre esse e outros filmes envolvendo Berlim clique aqui).
E é uma pena, pois o memorial que quero apresentar a vocês lembra um episódio que, apesar de triste, pode ser visto de uma maneira positiva num tempo de tanto sofrimento.
![Protesto Mulheres contra o Nazismo. Rosentrasse Berlim](https://www.agendaberlim.com/wp-content/uploads/2016/03/Protesto-Mulheres-contra-o-Nazismo-Rosentrasse-Berlim-©-AgendaBerlim-1-700x394.jpeg)
Esse memorial, apesar de ficar num local bem central da cidade, entre a Alexanderplatz e a estação de S-Bahn Hackescher Markt, infelizmente não é tão visitado, já que fica meio escondidinho. O que será ele significa? Vamos à história.
Os nazistas planejam “varrer” os judeus de Berlim
Estamos no início de 1943 e as tropas nazistas haviam sofrido pesadas derrotas em Stalingrado.
O Reich precisava mostrar força em Berlim. Na manhã de 27 de fevereiro a Gestapo (Polícia secreta nazista) e as tropas da SS invadem em torno de 100 fábricas em Berlim onde milhares de judeus trabalhavam forçadamente.
Além de fábricas, apartamentos de judeus e ruas foram vasculhados.
O plano era confiná-los nos chamados Sammellager (eu já escrevi sobre dois desses Sammellager, o da Levetzowstrasse e o outro da Grosse Hamburger Strasse) e depois deportá-los para os campos de extermínio, fazendo com que Berlim se tornasse uma cidade judenrein, ou seja, livre de judeus.
Foi aí que as irmãs, bem como esposas e noivas desses judeus, judias ou não, foram às ruas para protestar.
O protesto das mulheres contra o nazismo
O local do Frauenprotest foi na Rosenstrasse, exatamente onde hoje fica o memorial. E tudo isso sob a vigilância dos homens fortemente armados da Gestapo.
Isso faz desse protesto não só um enorme ato de amor e de coragem, mas também a única manifestação desse tipo durante todos os 12 anos da ditadura de Hitler.
Foram 6 dias de protestos e durante esse tempo, quando a Gestapo dispersava as mulheres, elas voltavam logo depois, e em números cada vez maiores.
Depois desses 6 dias os homens judeus foram liberados e alguns deles que já tinham sido inclusive deportados para Auschwitz, foram trazidos de volta a Berlim.
Esse episódio mostra que a resistência e protestos contra o nazismo não eram só possíveis, mas existiram.
Nos últimos meses da guerra, a maioria desses homens foi enviada ao campo de Theresienstadt e assassinada.
Durante os bombardeios do fim da guerra, o prédio onde os eles foram confinados foi destruído.
O memorial
No local onde ficavam confinados, foram colocadas, em 1995, as esculturas de Eva Hunziger.
O memorial faz referência aos protestos e às mulheres que passaram os 6 dias lutando pelos seus homens.
Como é comum nos memoriais, não se tem muita explicação sobre as figuras em si. Mas o sofrimento das mulheres fica bem claro, principalmente quando se sabe da história por trás.
No local também tem uma plaquinha informativa em alemão e inglês.
Como chegar:
Fica na Rosentrasse 2-4, 10178
Estação de S-Bahn Hackescher Markt
Parada de ônibus Spandauer Str/Marienkirche
Por perto:
Marienkirche: a igreja mais antiga de Berlim
Torre de TV de Berlim
Bairro judeu: um passeio pelo antigo bairro no coração de Berlim
Museu da DDR
Fontes:
Livro “111 Orte in Berlin auf den Spuren der Nazi-Zeit”
Livro “Erinnerungsorte in Berlin”
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