Não é incomum eu receber pessoas aqui em Berlim e, quando o assunto chega em nazismo e segunda guerra, logo surge o questionamento sobre a existência de protestos e resistência ao regime.
De modo geral, o único movimento de resistência mais conhecido é a operação Valquíria, que ficou bem famosa depois do filme com Tom Cruise (mais sobre esse e outros filmes envolvendo Berlim clique aqui).
E é uma pena, pois o memorial que quero apresentar a vocês lembra um episódio que, apesar de triste, pode ser visto de uma maneira positiva num tempo de tanto sofrimento.
Esse memorial, apesar de ficar num local bem central da cidade, entre a Alexanderplatz e a estação de S-Bahn Hackescher Markt, infelizmente não é tão visitado, já que fica meio escondidinho. O que será ele significa? Vamos à história.
Os nazistas planejam “varrer” os judeus de Berlim
Estamos no início de 1943 e as tropas nazistas haviam sofrido pesadas derrotas em Stalingrado.
O Reich precisava mostrar força em Berlim. Na manhã de 27 de fevereiro a Gestapo (Polícia secreta nazista) e as tropas da SS invadem em torno de 100 fábricas em Berlim onde milhares de judeus trabalhavam forçadamente.
Além de fábricas, apartamentos de judeus e ruas foram vasculhados.
O plano era confiná-los nos chamados Sammellager (eu já escrevi sobre dois desses Sammellager, o da Levetzowstrasse e o outro da Grosse Hamburger Strasse) e depois deportá-los para os campos de extermínio, fazendo com que Berlim se tornasse uma cidade judenrein, ou seja, livre de judeus.
Foi aí que as irmãs, bem como esposas e noivas desses judeus, judias ou não, foram às ruas para protestar.
O protesto das mulheres contra o nazismo
O local do Frauenprotest foi na Rosenstrasse, exatamente onde hoje fica o memorial. E tudo isso sob a vigilância dos homens fortemente armados da Gestapo.
Isso faz desse protesto não só um enorme ato de amor e de coragem, mas também a única manifestação desse tipo durante todos os 12 anos da ditadura de Hitler.
Foram 6 dias de protestos e durante esse tempo, quando a Gestapo dispersava as mulheres, elas voltavam logo depois, e em números cada vez maiores.
Depois desses 6 dias os homens judeus foram liberados e alguns deles que já tinham sido inclusive deportados para Auschwitz, foram trazidos de volta a Berlim.
Esse episódio mostra que a resistência e protestos contra o nazismo não eram só possíveis, mas existiram.
Nos últimos meses da guerra, a maioria desses homens foi enviada ao campo de Theresienstadt e assassinada.
Durante os bombardeios do fim da guerra, o prédio onde os eles foram confinados foi destruído.
O memorial
No local onde ficavam confinados, foram colocadas, em 1995, as esculturas de Eva Hunziger.
O memorial faz referência aos protestos e às mulheres que passaram os 6 dias lutando pelos seus homens.
Como é comum nos memoriais, não se tem muita explicação sobre as figuras em si. Mas o sofrimento das mulheres fica bem claro, principalmente quando se sabe da história por trás.
No local também tem uma plaquinha informativa em alemão e inglês.
Como chegar:
Fica na Rosentrasse 2-4, 10178
Estação de S-Bahn Hackescher Markt
Parada de ônibus Spandauer Str/Marienkirche
Por perto:
Marienkirche: a igreja mais antiga de Berlim
Torre de TV de Berlim
Bairro judeu: um passeio pelo antigo bairro no coração de Berlim
Museu da DDR
Fontes:
Livro “111 Orte in Berlin auf den Spuren der Nazi-Zeit”
Livro “Erinnerungsorte in Berlin”
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