Este é o segundo e último post da série “Berlim, 1945”. Clique para ler o primeiro.
A destruição de Berlim
Berlim foi bombardeada por 300 ataques aéreos somando 50.000 toneladas de bombas.
Estima-se que 556.500 casas e apartamentos foram destruídos. A população de 4 milhões reduziu-se a pouco mais de 2,5 milhões.
A destruição de Berlim, da forma como se deu, foi algo tão marcante, que pessoas de várias partes da Europa e do mundo passaram a visitá-la para ver de perto a cidade devastada. Criou-se um verdadeiro turismo de escombros.
O vídeo abaixo mostra um voo sobre a Berlim devastada pela II Guerra:
A infraestrutura da cidade era praticamente inexistente. Não havia transporte, energia, policiamento. Todas as distâncias tinham de ser percorridas a pé. Água só em bombas de bairros.
Com o caos instalado, o único meio de comunicação na cidade eram quadros de avisos espalhados pelas ruas. Esses quadros serviam, entre outras coisas, para encontrar pessoas. Entretanto, no caso de crianças muito novas, que ainda não liam, eles não tinham serventia alguma. Muitos demoraram anos até reencontrar algum parente, outros nunca encontraram.
Outro grande problema era com a saúde, principalmente porque os médicos que havia tinham perdido seus registros e muitos foram presos. Os médicos foram os profissionais que, proporcionalmente, mais apoiaram o nazismo.
A destruição em Berlim foi tão devastadora que crianças e adultos, que cresceram na cidade, não raro se perdiam nos arredores de suas casas por falta de pontos de referência.
A cena de pessoas cortando a carne dos cavalos mortos nos últimos dias de combate para comer marcou esses dias.
Logo surgiram vários mercados negros pela cidade. Os maiores e mais conhecidos ficavam nas proximidades do Reichstag, na Alexanderplatz e na Potsdamer Platz. Apesar da proibição, eles funcionavam a olhos vistos nos primeiros dias do pós guerra.
A hostilidade toma conta da cidade
Pode-se dizer que Berlim era uma cidade hostil a praticamente todo mundo.
Os antigos e orgulhosos moradores da antiga capital do Reich eram agora um povo dominado e tinham sua cidade ocupada pelos seus maiores inimigos, os temidos bolcheviques.
Os soldados do exército vermelho, apesar de terem conquistado Berlim, temiam ataques de fanáticos e de eventuais franco-atiradores.
Chegavam aos montes grupos de alemães refugiados vindos do leste, assim como os prisioneiros dos campos de concentração libertados.
Os alemães refugiados geralmente só podiam permanecer 24 horas em Berlim e temiam o tratamento dado pelos soviéticos. Os prisioneiros libertos, por sua vez, estavam apreensivos de serem ainda atacados pelos nazistas remanescentes.
Não por menos. O assunto mais comentado nas cidades orientais da Alemanha era o estupro das mulheres, independentemente de idade. Estima-se que dezenas de milhares delas foram abusadas pelos soviéticos. O exército vermelho, claro, proibia e punia seus homens. Mas acontecia com tanta frequência que era impossível controlá-los.
Os alemães com qualquer envolvimento com o partido nazista tentaram esconder esse período histórico de seu currículo. Insígnias e uniformes nazistas foram jogados fora. Os uniformes e os metais das insígnias foram reciclados. Em Berlim, muitos daqueles que eram identificados pelos soviéticos como nazistas foram enviados ao campo de concentração de Sachsenhausen (funcionou sob o domínio dos soviéticos por 5 anos depois da guerra).
Após o caos, o trabalho
Os soviéticos colocaram os moradores para trabalhar e assim os berlinenses logo começaram a limpar as ruas e deixá-las transitáveis.
Uma força policial foi formada com os poucos homens jovens restantes. Eles inicialmente usaram o uniforme da polícia de Berlim de antes de 1933, portanto antes do nazismo.
Em poucas semanas as ruas já estavam limpas, transporte público funcionando e a polícia atuando, tudo, claro, dentro das limitações. Qualquer jardim, parque ou terreno estava sendo cultivado para a alimentação. Aos poucos Berlim foi se recuperando.
O vídeo abaixo mostra o dia-a-dia de Berlim ainda em Julho de 1945, 2 meses após a tomada da cidade:
Mas claro que se recuperar de tamanha destruição leva muito tempo.
Eu costumo dizer que Berlim ainda não se recuperou totalmente. Ainda é possível ver vários terrenos baldios pelo centro da cidade. No final da década de 30, a população da cidade chegou a 4 milhões, hoje, mais de 70 anos depois, ainda chega perto dos 3,5 milhões.
Só que, ao contrário do que era antes, Berlim não é mais hostil aos seus visitantes. Pelo contrário, recebe pessoas de todo o mundo de braços abertos.
Fontes:
Livro “Frühling in Berlin” do Kulturprojekte-Berlin.
Livro “Alemanha, 1945″ de Richard Bessel, link na Amazon.
Reportagem especial no jornal alemão Die Welt.
Se você gostou desse post, dá uma olhada também:
Berlim, 1945: a paz não começa com o fim da guerra (parte 1)
Campo de concentração Sachsenhausen
Memorial do Holocausto
Memorial às vítimas da guerra e da tirania
Hotel Adlon: a história por trás do luxo
e outros posts na nossa tag Segunda Guerra Mundial
Olá Pacelli,
É impressionante olhar tudo isso lá trás, em uma história ainda recente, ver o quanto os efeitos das guerras se arrastaram na Alemanha até tempos ainda recentes e ver a grandeza deste país hoje, um exemplo de organização e superação.
Amei esta série de posts, muito bom aprender ainda mais de forma tão esclarecedora e leve como vocês escrevem 🙂
Abs!
Camilian
Oi Camilian! Obrigada por passar aqui 🙂
O Pacelli se dedicou bastante ao tema pra escrever essa série, eu também adorei! rss
Incrível ver a recuperação da Alemanha em tão pouco tempo mesmo.
Beijos!
Nossa, Berlim já arrumou tantas coisa mas ainda tem mesmo muitas coisas para fazer por consequência da guerra (direta ou indiretamente). Coloquei este e vários posts de vcs sobre história da cidade no post que vou publicar amanhã!
Obrigada, Fernanda! Tua série de posts sobre Berlim está ótima 😀
Mais um ótimo post do Agenda Berlim. Voltei há um mês, e não me canso de ler sobre essa cidade incrível.
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Olá, parabens pela reportagem, sou brasileiro e moro em Lisboa, a pouco tempo estive na Alemanha, e a cada vez que faço uma visita a esta ilustre cidade, eu cada vez fico mais apaixonado por este país, fico admirado como tão rápido conseguiram reconstruir tudo isso, as ruas, as casas, as praças é tudo muito perfeito e limpo, a cidades muito organizadas, quero aqui dar os parabéns a esse povo que através do trabalho e honestidade conseguiram dar a volta por cima.Valeu
Olá Alexandre! Obrigada por passar por aqui e pelo seu comentário. Abraços
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[…] Eu já escrevi um post completo sobre o importante ano de 1945 em Berlim, vem ler aqui. […]
Eu sinceramente sou apaixonado pela a historian da primeira e segunda Guerra mundial amu a alemanha e meu sonho conheve-la
Agora tenho a historia mas de perto vce e incrivel sou see faā
Mas que maravilha ler isso. Ficamos muito felizes com esse comentário/depoimento.
Clichê dizer isso, mas é bom saber que o nosso trabalho é apreciado.
Muitíssimo obrigado.
Oi Pacelli,
Mais um post muito bem pesquisado e como sempre muito agradável leitura. Se nota bem a sua paixão por esta fascinante cidade que é Berlim. Continue escrevendo, a sua prosa é excelente e sempre dá vontade de ler mais ! Weiterhin alles Gute und viel Erfolg! Liebe Grüsse aus der Schweiz. 🙂
Olá, Marianne.
Que bom que você nos acompanha e, o mais importante, curte. Ficamos felizes.
Berlim é sim uma cidade fascinante, o que facilita bastante nosso trabalho.
Vielen Dank.
Und wann kommt ihr nach Berlin?
Grüsse aus Detuschland 🙂
[…] Se você se interessa pela história do término da guerra, dá uma olhada nestes dois posts que escrevi aqui: Berlim, 1945: a paz não começa com o fim da guerra – parte I e parte II. […]