O antigo prédio da Luftwaffe é um dos meus pontos preferidos de Berlim. Adoro acompanhar os nossos viajantes pela cidade e parar nessa esquina específica, cheia de história para contar.
Diferentemente das demais construções em seu entorno, o prédio sobreviveu à Segunda Guerra Mundial.
A partir de 1949, passou a ser utilizado como “Casa dos Ministérios”, tipo uma central de Ministérios comunistas do governo da recém-formada República Democrática Alemã (Alemanha Oriental).
Nesta ocasião, o Governo oriental retira um painel nazista da lateral do prédio e substitui por um painel de propaganda socialista.
O painel é de azulejos de Meissen, super resistente, e demonstra o ideal propagandístico socialista, com trabalhadores felizes e saltitantes, contentes com o sistema.
No centro da propaganda, há um aperto de mão: esse gesto é muito simbólico.
O aperto de mãos é feito entre um trabalhador e um político; mas o irônico é que quem faz o chamado “aperto de mão político” é o operário. A ideia fica então bem clara: dentro do sistema socialista/comunista, quem dá as ordens é o operário; o político é apenas um servente.
Apesar da queda do Muro de Berlim e derrocada do regime comunista por aqui, o painel de propaganda continua estampado na antiga Casa dos Ministérios socialistas.
Ironicamente, a partir de 1990, com a reunificação alemã, o prédio, que já fora sede nazista e sede comunista, virou sede da empresa responsável por privatizar as propriedades estatais da antiga Alemanha Oriental.
O levante de 17 de Junho de 1953
Levante de 17 de Junho de 1953
A esquina ainda foi palco de uma manifestação em 17 de Junho de 1953, quando operários sob o regime comunista saem às ruas e se reúnem em torno da Casa dos Ministérios para pedir melhores condições de vida: voto direto, libertação de presos políticos, entre outras exigências que não encontraram eco no governo ditatorial da DDR.
Pelo contrário, cerca de 120 pessoas foram mortas pela reação exagerada do regime ao enviar os tanques de guerra do exército soviético contra sua própria população.
O dia ficou marcado na história e a Berlim ocidental nomeou uma de suas maiores avenidas de “Strasse des 17. Junis” (Rua do 17 de Junho).
Em 2013, no aniversário de 50 anos do levante, a esquina do prédio também foi renomeada para “Praça do levante de 17 de Junho”.
Atualmente, o prédio da Luftwaffe, de arquitetura nazista, com marcante história comunista, é a sede financeira do governo alemão – e por que não dizer – da Europa: é o grande e imponente Ministério das Finanças da Alemanha. Claro que um prédio assustador assim só podia ser o responsável por recolher a alta carga tributária alemã… (brincadeirinha, rs)
Já na sua função atual, foi inaugurado na lateral do prédio um memorial àquele dia de 17 de Junho de 1953.
De forma sutil e novamente cheio de significados escondidos, um painel de mesmas dimensões do painel comunista foi colocado paralelamente ao painel original.
No chão da esquina, em frente ao painel de propaganda socialista, encontra-se uma foto do dia do levante: os trabalhadores não estão felizes e satisfeitos, eles marcham pela sua dignidade, pedem por sua liberdade.
Os rostos estão sérios e tensos. Observando o painel da realidade, no chão do local, vê-se o quanto aquele painel propagandístico paira no ar da enganação, da mentira, do mau-caratismo.
Desde os 3 anos fiz da leitura a minha melhor aliada. Mas diferente de Pacelli, de vez em quando preciso dar uma pausa nos livros de filosofia, história e política e partir para ler um romance. Por gostar de escrever de forma didática, sou responsável pela maior parte dos posts práticos aqui do blog.
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Oiiii , muito bom seu post , sepre leio … Estava por prelim há 2 dias atrás e infelizmente não vi esse prédio , da proxima vez visitarei com certeza ! Ah e tbm Quero agradecer a foça que me deu na situação da passagem pra polônia , acabei vindo com outra empresa . Mas vc foi muito prestativa e gente boa cmg ! Forte abraço ✌️
Sim, verdade, Robson. “Arquitetura nazista” teoricamente não existe, mas acredito que o público entendeu o recado, já que o post é mais focado na história geral do que especificamente na arquitetura. 😉
Obrigada pela sua adição!