Apesar de já ter feito um roteiro sobre a Berlim Nazista e sobre o antigo Bairro Judeu, achei que valeria a pena ter um post somente sobre esse memorial. São as Stolpersteine, ou Pedras de Tropeço. É discreto, passa batido pra muita gente, mas é belíssimo.
Vem ver o porquê.
Berlim, uma cidade diferente
As Stolpersteine ou Pedras de Tropeço, é daquelas homenagens tipicamente sutis e elegantes de Berlim.
Como costumamos dizer, Berlim não é uma cidade óbvia, assim como vários de seus pontos turísticos e memoriais.
E, claro, há uma razão pra isso. A recente história de Berlim é tão intensa que um mínimo deslize na construção de um local comemorativo poderia machucar muita gente. Gente que sofreu com tudo isso.
Muitas feridas ainda estão abertas.
Os memoriais são sutis
É daí que vem essa ideia de instalar memoriais relacionados a essa história mais conturbada e recente de maneira sutil e discreta.
O artista
Gunter Demnig, nascido em 1947, é o artista idealizador das Pedras de Tropeço. Cresceu em Berlim, onde estudou artes e desenho industrial.
Em 1996, nas calçadas do bairro de Kreuzberg, ele começou a colocar as pedrinhas homenageando vítimas do nazismo.
Os homenageados
Diferente do que muita gente pensa, entre os homenageados podemos encontrar não só judeus, mas também ciganos, perseguidos políticos, homossexuais e pessoas com certas doenças.
As Pedras de Tropeço
As “Pedras de Tropeço”, Stolpersteine, são feitas por iniciativa de Gunter Demnig, e são colocadas na frente de onde essas pessoas moravam, ou de onde elas trabalhavam.
Demnig busca as informações para colocar as pedras de tropeço não só em museus e arquivos, mas também falando com antigos moradores.
Com os dados obtidos dessas fontes, ele faz a plaquinha de metal com as informações mais importantes sobre a vida de uma vítima do nazismo.
Uma pedra costuma conter: aqui morou/trabalhou/estudou nome, data e local de nascimento, data de deportação, data e local em que foi morto, (geralmente o nome de um campo de concentração, em muitos casos, Auschwitz).
Origem do termo
Esse é um ponto bem curioso, que deixa o memorial ainda mais simbólico.
Pedra de Tropeço é um termo da bíblia, do Antigo e do Novo Testamento.
Uma pedra que faz alguém tropeçar, é vista como algo que, no longo caminho da vida, nos leva a pecar.
A palavra da Septuaginta, bíblia hebraica traduzida para o grego antes da era cristã, para pedra de tropeço é skandalon. Em latim o termo é scandalum.
Bom, daí já fica claro do que se trata.
Hoje há mais de 60.000
Sim. Há mais de 60 mil pedras de tropeço espalhadas por toda a Europa. A maioria delas fica na Alemanha.
Recentemente, a Deutsche Welle (Canal internacional alemão) divulgou que a primeira pedra de tropeço foi colocada fora da Europa, em Buenos Aires.
E aí é claro que, para pesquisar, confeccionar e instalar tantas pedras de tropeço o artista Gunter Demnig conta com muita ajuda. Muita dessa ajuda vem de estudantes, que, participando desse projeto, sentem-se mais próximos das vítimas.
Uma homenagem polêmica
Apesar da beleza e simbolismo dos sutis memoriais, nada disso fica imune às polêmicas. Como quase tudo que toca nesse tema.
Muita gente critica as pedras de tropeço porque, como muita gente não as vê, elas acabam sendo pisadas. Como se esse ato fosse uma forma de desprezo e indiferença.
Por outro lado, muitos dizem que, ao parar e olhar para baixo para ler o que está escrito nelas, todos são “obrigados” a se curvar e prestar uma reverência. Esse seria um ato respeitoso àquelas vítimas homenageadas.
As pedras de tropeço têm gerado problemas até mais sérios. Muitos proprietários de imóveis temem que seus apartamentos sejam desvalorizados por conta da homenagem.
Já houve, inclusive, ameaças de processos judiciais. Até onde isso foi, eu não sei.
Mas eu diria, sem medo de errar, que a esmagadora maioria das pessoas gosta.
É sempre legal estar passeando pela cidade e ver alguém se abaixando, quase que do nada, para ler o que está escrito na pedrinha.
E, logo depois de ler, o passante olha para o prédio em frente, imaginando a vida daquela pessoa, tão prejudicada e interrompida, que morava ali. E de repente nos sentimos tão próximos dessas vítimas.
Poderia ter sido conosco.
Fonte
Wikipedia: Breve explicação do termo Pedra de Tropeço
Deutsche Welle: Primeira pedra de tropeço fora da Europa
Livro: Erinnerungsorte in Berlin
Uau!! Achei uma homenagem incrível e emocionante. Vou ficar atenta pra ver se acho alguma dessas por Berlim.
Há muitas pela cidade, Guerly. Certamente você verá algumas. 🙂