Bombardeio de Dresden

bombardeio de dresden
Deutsche Fotothek‎, Fotothek df ps 0000010 Blick vom Rathausturm, CC BY-SA 3.0 DE

O bombardeio de Dresden foi um dos eventos mais chocantes da Segunda Guerra. O ataque foi tão devastador, que levantou discussões inclusive entre os aliados ocidentais. E essas discussões permanecem vivas até hoje.

Dresden é, sem dúvidas, uma das cidades mais belas da Alemanha. Tida como a Pérola do leste ou a Florença do Elba, a antiga capital do reino da Saxônia tinha tudo para passar ilesa na segunda guerra mundial.

Nós temos um post bem completo sobre como ir de Berlim a Dresden e o que fazer por lá. Dá uma conferida.

Mas infelizmente, o famoso bombardeio de Dresden foi uma catástrofe tão marcante na história do conflito, que é motivo de polêmica e debate até hoje, 75 anos depois de ocorrido.

E isso porque, naquela altura, em fevereiro de 1945, supostamente não haveria razões para bombardeá-la.

Notícias do bombardeio chocaram o mundo, com razão. A mídia falou em 200 a 250 mil mortos.

Muita informação errada ainda persiste no imaginário.

Mas afinal, o que é verdade? O que sabemos hoje em dia?

Por que Dresden teria sido poupada?

Entre os alemães, inclusive entre os próprios moradores de Dresden, todos imaginavam que a cidade jamais seria bombardeada. E eles tinham boas razões para isso.

Distância da Inglaterra

Até aquele momento, para os aviões da RAF (Royal Air Force), a Força aérea britânica, seria um desafio técnico enorme voar até uma cidade tão a leste do Terceiro Reich, bombardeá-la e voltar. Isso porque os aviões não possuíam velocidade e tanque de combustível suficientes para o feito.

Porém, o que os alemães não sabiam, é que a RAF já estava resolvendo esse problema simplesmente aumentando consideravelmente o tamanho dos tanques de combustível.

Refugiados do leste

A guerra já estava no final. A União Soviética vinha empurrando os alemães desde o cerco de Stalingrado. As minorias alemãs que viviam no leste europeu foram enxotadas aos milhões, forçadas a abandonar suas propriedades. A Europa naquele ponto odiava tudo que era alemão.

Não podemos desconsiderar ainda o pavor que boa parte da população do leste europeu, e aí não só as minorias alemãs, tinham do avanço soviético.

Como Dresden era a principal cidade do leste alemão, que ainda não havia sido destruída e que ainda possuía um nível alto de organização, esses refugiados se concentraram lá para sua proteção.

Com a quantidade enorme de refugiados, a população de Dresden imaginava que estava protegida por uma espécie de status humanitário.

Afinal, ninguém iria querer bombardear uma cidade cheia de refugiado inocente à procura de abrigo…

A cultura e beleza de Dresden

Sim, isso iludiu muitos da população local. Dresden era tão linda, tão repleta de arte e cultura que jamais alguém a bombardearia.

Falava-se, inclusive, em Dresden como capital dos aliados.

Quando a guerra acabasse, e a Alemanha perderia, pois àquela altura já era claro, Dresden, por conta de sua beleza, cultura e importância, Dresden viria a ser a capital usada pelos vencedores aliados para administrar o território conquistado.

Com essas ideias em mente, a população de Dresden não acreditava que seria bombardeada, chegando ao ponto de ignorarem as sirenes que alertavam para possíveis ataques.

Por que houve então o bombardeio de Dresden?

Vingança pelos bombardeios da Luftwaffe à Inglaterra

Algumas cidades inglesas haviam sido bombardeadas pela Luftwaffe por dias a fio. Bairros inteiros de Londres, Liverpool e Birmingham foram colocados ao chão.

Havia portanto, por parte da população inglesa e de seus militares, uma vontade de dar o troco.

Dresden era um alvo por razões militares?

Sim. Diferentemente do que muita gente pensa, em Dresden havia sim produção de armamentos.

Esse é um assunto pouco levantado, com certa razão, pois, durante os bombardeios, os alvos não foram as indústrias bélicas, nem quartéis, e sim o centro histórico da cidade.

A questão logística

Um dos principais motivos para o bombardeio de Dresden foi, sem dúvida, a questão logística.

Dresden era um entrocamento ferroviário, a partir do qual soldados e mantimentos eram enviados de trem para vários frontes diferentes, como o fronte oriental e o fronte italiano.

Aqui cabe mais uma observação. Nem a estação de trem de Dresden nem as ferrovias foram de fato alvos dos bombardeios.

Porém, temos que considerar que quando a cidade que provê os serviços, mão-de-obra e estrutura para o funcionamento da logística de guerra é destruída, tudo entra em colapso.

Ou seja, teria feito sentido o bombardeio a Dresden, mesmo sem as estações e as ferrovias terem sido destruídas, pois sem a cidade, é difícil que qualquer coisa funcione.

Forçar os civis a saírem das cidades

Essa é uma justificativa ligada à anterior e ao bombardeio de, na verdade, todas as cidades alemãs.

A intenção dos aliados em bombardear os centros urbanos era forçar a população das cidades a irem para o campo se refugiar.

Com isso, as fábricas ficariam sem mão-de-obra, a produtividade alemã cairia drasticamente e os aliados teriam uma grande vantagem econômica.

Sinal de que os ocidentais auxiliariam Stalin

No bombardeio de Dresden ficou claro para a cúpula nazista que os aliados ocidentais estariam dispostos a ajudar o avanço das tropas soviéticas de Stalin.

Por estranho que pareça, havia uma ilusão entre alguns nazistas de que o verdadeiro inimigo era Stalin. Alguns nazistas achavam que se eles se rendessem aos americanos e ingleses, estes os ajudariam a lutar contra Stalin. Sim, imaginavam que os ingleses e americanos lutariam lado a lado com os nazistas contra Stalin.

Quando o leste é bombardeado, é bombardeada também essa ilusão.

Pressão de Stalin

Esse é um fator não desprezível.

A essa altura na guerra, as tropas soviéticas já tinham obtido vitórias esmagadoras e avançavam consistentemente em direção à Alemanha nazista.

Mas nada, claro, era fácil. Bombardeios aéreos iriam amolecer as defesas alemãs assim como diminuir a capacidade dos alemães de se restabelecerem.

Ou seja, havia motivos

Sim. Havia motivos racionais e estratégicos para o bombardeio de Dresden.

Não foi, como muito se fala, um bombardeio feito para caçar e matar civis por pura vingança ou maldade.

IMPORTANTE: em nenhum momento eu quero dizer que isso tinha que ser feito e que os aliados estavam certos numa ação que, com certeza, mataria milhares de civis.

Como foi esse bombardeio?

Apesar de ser uma noite de inverno, a noite do dia 13 de fevereiro de 1945 estava clara e quase sem nuvens no leste alemão.

Cerca de 800 aviões partiram da Inglaterra em dois grupos diferentes.

Praticamente não houve resistência alemã. O ataque a Dresden não era crível e a Luftwaffe já não tinha condições de defender o espaço aéreo alemão.

O primeiro grupo de aviões, veio abarrotado de bombas explosivas com o objetivo de destruir parcialmente as casas do centro histórico de Dresden. Lembremos que Dresden era uma cidade medieval, com muitas de suas casas ainda com estrutura de madeira.

Essa estrutura de madeira ficou exposta com o primeiro grupo de aviões.

Só depois de os edifícios estarem parcialmente destruídos, expostos, depois de a população ter começado a sair de suas proteções é que a segunda parte do ataque começou.

Os incêndios

Logo depois do bombardeio de impacto, vieram as bombas incendiárias.

O fogo se espalhou rapidamente, era muita madeira exposta, as casas eram muito próximas. O vento forte daquela noite ajudou o fogo.

Dentro de poucos minutos, a temperatura na cidade era tão alta que os que corriam pelas ruas desesperados procurando um lugar para se abrigar perceberam que a sola dos sapatos derretia.

Mais algum tempo depois a temperatura aumentou ainda mais. Quase tudo que não estava incendiado entrou em combustão espontânea. Árvores, casas, bancos de igreja…

A pele das pessoas já derretia.

O desespero era tão grande que parte da população, que conseguiu fugir de suas casas em chamas, tentou se abrigar numa grande fonte de água.

Elas morreram cozidas, fervidas na fonte que elas procuraram para se resfriar.

Quando o abrigo antiaéreo foi aberto pelo resgate muitas horas depois, só encontraram ossos e um líquido marrom esverdeado, era material humano derretido.

Cerca de 25 mil pessoas perderam a vida de uma maneira infernal em poucos minutos.

Para os aliados foi um ataque quase perfeito. De 800 aviões enviados, só 6 não voltaram.

Fonte de fake news

Diferentemente de quando outras cidades foram bombardeadas, no caso de Dresden, Goebbels deu toda a atenção.

Isso porque o ministro da propaganda queria inspirar os alemães a lutar até o final.

Gobbels, com seu monopólio da informação, alertou os alemães que se eles não vencessem a guerra, toda a Alemanha seria uma Dresden.

Para os jornais estrangeiros e neutros, Goebbels soltou a informação de que o número de mortos em Dresden havia sido muito maior que o número real.

O ministro recebeu a informação de que de 20 a 25 mil pessoas haviam perdido a vida.

Porém, para aumentar a dimensão da tragédia, Goebbels colocou mais um zero.

As informações que circularam o mundo, e que, de certa forma, permanece até hoje, é que mais de 200 mil pessoas foram mortas no bombardeio de Dresden.

Repercussão entre os aliados ocidentais

As informações que chegaram na imprensa internacional chocou inclusive os ingleses e americanos. A população desses dois países passou a questionar as lideranças militares.

Quem era o monstro naquela guerra? Quem é o lado certo? Estamos fazendo o mesmo que eles? Esse morticínio foi executado em meu nome?

Esses foram os questionamentos morais feitos na época entre a população dos países aliados ocidentais.

Os oficiais da RAF que tiveram participação no bombardeio de Dresden caíram em desgraça e se tornaram pessoas das quais as lideranças inglesas só queriam distância.

Uso político na Alemanha Oriental

As lideranças comunistas se utilizavam das ruínas de Dresden para mostrar à população que toda aquela destruição e morte era resultado do instinto predatório do capitalismo.

Ali era onde, verdadeiramente, os capitalistas ocidentais tinham colocado as garras para fora e deixado suas intenções às claras.

Polêmica ainda hoje

Por incrível que pareça, o bombardeio de Dresden é debatido até hoje e nesse debate ainda persistem informações falsas.

Geralmente, grupos de extrema direita se aproveitam do ocorrido para se vitimizar e relativizar os crimes nazistas. Argumentam que não só os alemães cometeram barbaridades.

Esses grupos insistem na tese de que mais de 200 mil pessoas morreram.

Todos os anos, milhares de pessoas vão ao centro de Dresden para rezar, acender velas e deixar homenagens. Em 2020 o presidente alemão, inclusive, foi ao evento. Ele deixou claro que quem começou o conflito foi a Alemanha.

Os grupos de extrema direita sempre danificam as homenagens deixadas.

E depois de toda essa destruição? Vale a pena a visita a Dresden?

Sim! Sem dúvidas. Nosso post de como ir de Berlim a Dresden e o que fazer por lá mostra bem isso.

Dresden hoje

Nós fazemos passeios de bate-volta partindo de Berlim para Dresden.

A cidade está toda reconstruída e com todo seu acervo de arte.

Continua, sem dúvida, uma das mais belas cidades alemãs.

Palácio Zwinger com todo seu enorme acervo

E ir em Dresden chega a ser emocionante. Você ver aquela cidade linda sabendo da história, você testemunhar a capacidade humana de se reconstruir, a resiliência alemã, tudo isso é muito admirável e são uma atração à parte.

Vale a pena sim desvendar essa pérola do leste alemão, essa Florença do Elba.

Dresden: a pérola do leste alemão

Fonte:

Informações in loco.

Documentário Grandes Acontecimentos da Segunda Guerra Mundial em Cores. Netflix.

Quem sou eu: Pacelli Luckwü

Economista, mas apaixonado por filosofia, literatura, história e alta cultura, resolvi estudar os temas que aprecio em casa. Sempre procuro incluir essas temáticas nos meus posts sobre Berlim e Alemanha que você encontra por aqui.

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